6.

Machado polido/ Bipene

Proveniência – Santuário da Nossa Senhora da Assunção, Monte Córdova, Santo Tirso.

Material – Anfibolito de cor cinzenta (R92).

DescriçãoBipene integralmente polido com perfuração central. Duplo gume simétrico. Orifício central de recorte bitroncocónico. Secção circular. Gumes pontiagudos e afiados sem vestígios claros de utilização. Provável utilização votiva.

Classificação e cronologia – Fábregas Valcarce Tipo I.2B / Finais do III milénio – Primeira metade do II milénio.

Dimensões – Comprimento máximo 162 mm; Espessura máxima 29 mm; Largura máxima 47 mm; Diâmetro do orifício 17 mm; Peso 275.6 gr.

Depósito – MMAP, n.º 11.

Bibli. – SANTARÉM 1956, 69-72; MOREIRA 2007, 47, n.º 11; 2013, 43-44; 2014, 167-168.

O objeto recolhido em abril de 1954, no decurso da abertura da estrada que liga a esplanada do santuário de Nossa Senhora da Assunção ao Alto da Bela. Junto a este utensílio apareceu outro pequeno “machado” cujo paradeiro se desconhece. Integra atualmente o acervo expositivo do Museu Municipal Abade Pedrosa (MOREIRA 2007, 47, n.º 11).

Bipene com perfuração central, integralmente polido nos dois planos. Duplo gume simétrico. Orifício central de perfil cilíndrico de recorte bitroncocónico.

Secção circular. Gumes pontiagudos e afiados sem vestígios claros de utilização1. Pertence ao Tipo I.2B da tipologia proposta por Fábregas Valcarce (VALCARCE 1984, 5-11). Provável utilização votiva.

Peças morfologicamente afins estão documentadas desde a região danubiana ao mundo mediterrânico, central e oriental (ALARCÃO; BARROCA 2012, 60), colocando em evidência a existência de fortes conexões entre diferentes regiões atlânticas, percetíveis pela distribuição de outros materiais como, por exemplo, as pontas tipo Palmela. A cronologia de referência para os utensílios líticos perfurados de outras regiões da Europa centra-se entre finais do III milénio e a primeira metade do II milénio, cujo contexto parece consistente com as ocorrências do Norte de Portugal e da Galiza, associando-se a este fenómeno uma eventual restruturação ideológica cuja formulação poderia entroncar em transformações de caráter socioeconómico e não fruto de contactos diretos (VALCARCE 1992, pp. 265-280).

Este tipo de instrumento, a par das duplas “azuelas”, reúne um conjunto de rasgos morfológicos que lhes conferem um caráter de prestígio, percetível pelo material em que são elaborados, o cuidado geral da execução das peças, em particular o polimento dos gumes e do orifício e, por último, a sua prevalência em contextos rituais, especificamente funerários, cuja cronologia e contexto cultural se relaciona com o aparecimento de sepulturas individuais de personagens masculinas de elevado estatuto na comunidade, tumulados com um conjunto de objetos impregnados de um simbolismo guerreiro, constituindo, portanto, um fenómeno limitado a um segmento muito reduzido da sociedade.

Apesar de não ser conhecido o contexto do achado a área geográfica em que se insere permite, com alguma segurança, intuir um contexto funerário, sugerido pelo elevado número de monumentos megalíticos conhecido na área do planalto de Monte Córdova.

São relativamente escassos os exemplares identificados no Noroeste Peninsular, onde se destacam os exemplares provenientes da Galiza de Veiga das Mamoas, Guntín, Lugo; Monte Campelo, Begonte, Lugo (RELLÁN; VALCARCE, 2011, p. 259, fig. 1) e de Portugal, na região de Pombal (CASTRO 1963-64, 7-9, fig. 1, n.º 7).