O Mosteiro de Santo Tirso foi fundado por D.ª Unisco Godiniz, em 978. Decorrente da sua existência milenar, o complexo edificado atual, como é frequente em monumentos similares, resulta de múltiplas intervenções de diferente cronologia, informadas por várias sensibilidades estéticas, colocando em evidência que o edificado resultou de um processo contínuo, que apesar de ter conhecido períodos de estabilidade aparente, exprimindo a solidez da comunidade que a moldou, revelou um dinamismo constante, derivado de distintos modos de apropriação da realidade material e de diferentes ritmos económicos, culturais e mentais que caracterizaram a Ordem de S. Bento ao longo do tempo, e este mosteiro em particular.
As soluções arquitetónicas patentes refletem na plenitude a sua adequação aos preceitos da vida em comunidade, formulados pelos ideais cluniacenses de clausura e recolhimento absoluto, sendo de notar que a organização padronizada dos espaços, por referência ao modelo ideal, só se fixou com a construção de todo o complexo que teve início a partir da segunda metade do séc. XVII e mantida de forma consistente no edificado subsequente, no qual se reconhece uma exuberante expressão monumental, quer nos programas construtivos quer nos conteúdos artísticos, em que os edifícios, a cerca, os jardins e a paisagem agrícola se articulam numa verdadeira “obra de arte total” que se adequa ao referencial da regra beneditina “ora et labora”.
Neste sentido, o Mosteiro de Santo Tirso, à semelhança dos seus congéneres, incorpora o conceito de “perfeição utópica”, na qual a síntese espiritual da Ordem Beneditina se reflete no programa do edificado, revelando características que podem, em certa medida, ser entendidas como uma materialização da própria Regra. Verifica-se na sua planta que todas as edificações e demais espaços que constituíam o universo do mosteiro estão ordenados de forma setorizada. A Igreja, uma vez que acolhia também a comunidade laica, localizava-se à margem do complexo monacal, limitada pelas outras construções interditas aos leigos, como, por exemplo, os claustros instalados na face sul, em torno dos quais se disponham diversos espaços com funções específicas – os dormitórios, a livraria, o cartório, a sala do capítulo, o noviciado, a escola, o refeitório, a cozinha e os serviços com eles relacionados. Fora deste núcleo, os celeiros e a adega, a sala do “recibo” a enfermaria, a hospedaria, a botica, estrebarias, diversas oficinas, hortas e pomares. O programa respondia à necessidade e a um desejo de recolhimento e isolamento da comunidade conventual em relação à comunidade laica, à vida reclusa dos seus monges e à autossuficiência do mosteiro.