Colher com concha de formato oval e haste de secção quadrangular com adelgaçamento progressivo até ao remate. A ligação entre a haste e a concha é feita através de uma voluta que cria dois planos diferenciados.
A decoração inscrita na haste ocupa cerca de dois terços da mesma e forma um desenho geométrico composto por um conjunto de traços incisos.
As colheres em prata são particularmente comuns na Europa Central, Inglaterra e Península Ibérica e são diversas as utilidades que lhes são atribuídas no âmbito das tarefas domésticas, ora no domínio das atividades de higiene pessoal, nomeadamente para manuseamento de unguentos e perfumes, ora para procedimentos farmacêuticos ou de medicamentação, na administração, doseamento e preparação dos respetivos medicamentos.
Todavia, é também admissível uma dimensão religiosa para algumas delas, em direta relação com as primeiras comunidades cristãs. Garcia y Bellido aponta algumas pistas quanto à função que poderiam ter desempenhado.
Uma das possibilidades consiste na sua utilização na eucaristia, à moda do médio oriente, cujo costume se encontra preservado na igreja ortodoxa (BELLIDO 1971, 95).
As inscrições que muitas delas conservam em que o aclamativo vivas in Deo ou vivas in Christo, como por exemplo, na colher proveniente de Terrugem, Elvas (DEUS; LOURO; VIANA 1955, 572, fi g. 2, 19 – 24), precedido por um nome, Elias, permiteadmitir uma função relacionada com o batismo, no qual o nome do batizado era gravado como recordação, passando para a sua pertença, assim se explicando o contexto habitacional de muitos dos achados, assim como, o contexto funerário de algumas delas.
O facto de serem de um metal precioso parece corroborar esta perspetiva, uma vez que os exemplares conhecidos em bronze não conservam inscrições do tipo aclamativo, explicando-se a natureza do metal como forma de valorizar o batismo, de forma a vincar o acontecimento como o principal passo na vida cristã.
A sua conservação, à semelhança dos dias de hoje, reveste-se decrenças, relacionadas com a proteção divina, nas quais se atribuem propriedades profiláticas ou curativas, com o mesmo sentido em que se conservam medalhasou escapulários (BELLIDO 1971, 96).
A cronologia deste tipo de materiais tem vindo a ser balizada entre o séc. IV e o início do séc. V (MELENDO 1998, 94; ALARCÃO; PONTE 1979, 161), sendo, no entanto, provável que a sua utilização se tenha prolongado até finais do séc. V, como parece ser o caso da colher recolhida na villa romana de S. Miguel de Odrinhas, Sintra, cuja ocupação da segunda villa aponta para o séc. V (SOUSA 1989, 182).